quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Mercante - 13 de Ouros



 
Um árabe contempla o mar, rodeado por sua mercadoria. Mas não está envolvido pela paisagem... ele pensa em seus negócios. Os lucros e as dívidas, a qualidade dos fornecedores, uma possível expansão. Ele não é refinado, nem quer se tornar um gentleman. Seu negócio é dinheiro. Não para adquirir objetos e status, mas pelo prazer de vê-lo multiplicar-se. Muitas vezes, é a sua família que desfrutará dos benefícios dessa riqueza. Seu desejo é que seus filhos estudem nos melhores colégios e tenham o que ele não teve, para substituí-lo no futuro e fazer com que os negócios cresçam ainda mais. Ele é, na verdade, uma pessoa simples e grosseira, como indicam seus pés descalços, mas bastante perspicaz.

O Mercante tem anos de experiência no trato com pessoas. Sabe o que desejam, e como lhes oferecer isso. É capaz de mentir a respeito de um produto, ludibriar o cliente a fim de criar nele uma necessidade de consumo que talvez não existisse antes (assim como a Publicidade). Fará tudo para manter o seu negócio, que é o seu grande orgulho, a sua vida. Fica mais tempo em seu comércio do que em casa.

No Ocidente, associamos a imagem e as características do Mercante ao árabe (erroneamente chamado de “turco” por aqui) e ao judeu. Essa imagem está carregada de preconceito, como se as qualidade necessárias ao exercício de um trabalho fossem inerentes a esses povos. Lembremo-nos de que na Europa não havia a possibilidade de um judeu tornar-se um Nobre proprietário de terras, e o comércio era o caminho mais promissor para a sobrevivência. Quanto aos árabes, negociaram especiarias e produtos finos com os italianos por muito tempo, conquistando o imaginário do continente como eternos comerciantes. Antes da Revolução Francesa, os burgueses eram cidadãos de segunda classe. Nas Sibilas temos várias dessas “castas” representadas: o Gran Signore (Nobreza), o Sacerdote (Clero), o Militare (Guerreiro), o Mercante (Comerciante), a Donna di Servizio (Servos).


Basicamente, representa um homem de negócios: o comerciante, o empresário, o publicitário. Alguém que vende um produto ou a sua própria imagem. Negativamente, é uma pessoa que tenta enganar os outros para tirar algum lucro para si. Ainda que os outros fiquem satisfeitos com o que conseguiram, ele vende seu produto com base na mentira, se necessário. Por isso, todo cuidado é pouco. Existe alguém ou alguma situação que está ludibriando o consulente? Ele pode acabar comprando gato por lebre.

Ele é interesseiro, mas um interesseiro prático, não emocional. Sem os refinamentos da sociabilidade, não se aproximará de ninguém à toa. Ninguém propõe uma sociedade em um negócio para ajudar seu sócio, mas para lucrar. Seu objetivo não é exatamente manipular ninguém, mas extrair o melhor para si mesmo. Se você espera um relacionamento afetivo de alguém, essa carta lhe diz que não será bem assim.  

A carta também alerta para a necessidade de ser mais esperto. Uma oportunidade pode estar na cara do consulente e ele não está vendo. Ou, se estiver atento, deve refletir bem sobre o que fazer e como tirar vantagem da situação. 

Por último, gostaria de reforçar que ficar rico não é pecado, tirar vantagem de uma situação sem prejudicar ninguém não é pecado, ter o desejo de crescer na carreira não é pecado. Costumamos julgar o arcano negativamente devido a uma série de crenças que herdamos. Por isso, é bom avaliar de acordo com a situação se as características do Mercante são desejáveis ou excessivas. 

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