Um árabe contempla o mar, rodeado por sua mercadoria. Mas
não está envolvido pela paisagem... ele pensa em seus negócios. Os lucros e as
dívidas, a qualidade dos fornecedores, uma possível expansão. Ele não é
refinado, nem quer se tornar um gentleman. Seu negócio é dinheiro. Não para
adquirir objetos e status, mas pelo prazer de vê-lo multiplicar-se. Muitas
vezes, é a sua família que desfrutará dos benefícios dessa riqueza. Seu desejo
é que seus filhos estudem nos melhores colégios e tenham o que ele não teve,
para substituí-lo no futuro e fazer com que os negócios cresçam ainda mais. Ele
é, na verdade, uma pessoa simples e grosseira, como indicam seus pés descalços, mas bastante perspicaz.
O Mercante tem anos de experiência no trato com pessoas.
Sabe o que desejam, e como lhes oferecer isso. É capaz de mentir a respeito de
um produto, ludibriar o cliente a fim de criar nele uma necessidade de consumo
que talvez não existisse antes (assim como a Publicidade). Fará tudo para manter o seu negócio, que é o seu grande orgulho,
a sua vida. Fica mais tempo em seu comércio do que em casa.
No Ocidente, associamos a imagem e as características do
Mercante ao árabe (erroneamente chamado de “turco” por aqui) e ao judeu. Essa
imagem está carregada de preconceito, como se as qualidade necessárias ao
exercício de um trabalho fossem inerentes a esses povos. Lembremo-nos de que na
Europa não havia a possibilidade de um judeu tornar-se um Nobre proprietário de terras,
e o comércio era o caminho mais promissor para a sobrevivência. Quanto aos
árabes, negociaram especiarias e produtos finos com os italianos por muito
tempo, conquistando o imaginário do continente como eternos comerciantes. Antes
da Revolução Francesa, os burgueses eram cidadãos de segunda classe. Nas
Sibilas temos várias dessas “castas” representadas: o Gran Signore (Nobreza), o Sacerdote
(Clero), o Militare (Guerreiro), o Mercante (Comerciante), a Donna di Servizio (Servos).
Basicamente, representa um homem de negócios: o comerciante,
o empresário, o publicitário. Alguém que vende um produto ou a sua própria
imagem. Negativamente, é uma pessoa que tenta enganar os outros para tirar
algum lucro para si. Ainda que os outros fiquem satisfeitos com o que
conseguiram, ele vende seu produto com base na mentira, se necessário. Por isso, todo cuidado é pouco. Existe
alguém ou alguma situação que está ludibriando o consulente? Ele pode acabar
comprando gato por lebre.
Ele é interesseiro, mas um interesseiro prático, não emocional. Sem os refinamentos da sociabilidade,
não se aproximará de ninguém à toa. Ninguém propõe uma sociedade em um negócio
para ajudar seu sócio, mas para lucrar. Seu objetivo não é exatamente manipular ninguém, mas extrair o melhor para si mesmo. Se você espera um relacionamento
afetivo de alguém, essa carta lhe diz que não será bem assim.
A carta também alerta para a necessidade de ser mais esperto. Uma oportunidade pode estar na cara do consulente e ele não está vendo. Ou, se estiver atento, deve refletir bem sobre o que fazer e como tirar vantagem da situação.
Por último, gostaria de reforçar que ficar rico não é pecado, tirar vantagem de uma situação sem prejudicar ninguém não é pecado, ter o desejo de crescer na carreira não é pecado. Costumamos julgar o arcano negativamente devido a uma série de crenças que herdamos. Por isso, é bom avaliar de acordo com a situação se as características do Mercante são desejáveis ou excessivas.
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