quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Militare - 10 de Espadas


Vamos agora adentrar no mundo masculino. Também começando pelos mais jovens: o Militare, com sua farda impecável, o peito estufado, a imaginação - ao menos - nos campos de batalha. Percebemos, pelas bochechas rosadas, que ele mal saiu dos cueiros. E pelo olhar esperançoso, de olho no futuro, fica claro que ele nunca lutou de verdade. Não sabe o que o espera, exceto pelos livros que leu, pelos filmes que assistiu (Apocalipse Now não está entre suas referências). 

Atrás dele vemos as muralhas do forte e uma nuvem de areia que se levanta. Parece-nos que ele acabou de chegar no local de batalha, um deserto em algum lugar do mundo (penso na presença dos italianos em Trípoli, Líbia, mas essa informação só situa a inspiração da imagem). Por enquanto, ele está protegido pelos muros. Muito animado pelo fato de, pela primeira vez na vida, vislumbrar a real possibilidade de tornar-se um herói. A guerra será o seu rito de passagem para a vida adulta. E está tão entretido com suas visões do futuro que nem percebe a nuvem de areia que poderá engoli-lo. Aliás, ele pensa que é só uma nuvem de areia. Acostumado com os campos verdejantes e a suave brisa de sua terra natal, ele ainda não sabe o que isto aqui:

Simum, como é chamada uma tempesdade de areia no deserto

E muito menos isto:


E por quais motivos escolheu a vida militar? Ele quer sentir que pertence a algo. Por isso buscou uma instituição rígida, cheia de regras, que lhe servisse de norte. Ele ainda precisa ser doutrinado, orientado. Antes, precisava dos amigos em volta para ser corajoso. Agora, prefere confiar em uma autoridade, a quem obedecerá cegamente. 

A confiança dele assenta-se sobre um uniforme, não sobre seu caráter. O uniforme é sua máscara e sua fortaleza. Sem isso tudo, ele não tem forças para aceitar-se. 

Ele é obediente, mas não porque tem senso de dever. Só quer ser alguém, como a autoridade que está acima dele e que tanto admira. Não sabemos se ele serve por amor à pátria ou por reconhecimento. 

A partir disso, podemos concluir que essa pessoa tem vantagens e desvantagens. Ele tentará fazer o seu melhor para nos defender, mas será que sabe manejar aquela arma? Ele quer fazer tudo certo. É disciplinado, está disposto a superar seus limites. O futuro promete. Mas a carta mostra-o hoje, jovem e inexperiente. 

No jogo, pode representar um militar, obviamente. Mas também alguém que se agarra ao seu cargo, ao seu título (coisa muito comum aqui em Brasília). Sabe aquele moço que passou num super concurso aos 22 anos de idade, vira chefe de gente bem mais safa e nem cabe direito no terno? Alguns terão pena, outros terão raiva, e outros ainda enxergarão nele um jovem promissor, que só precisa de uma ajudinha para se situar. Pode ser o filho do dono da empresa que começa a aprender administração. 

Também representa os aprendizes disciplinados, que confiam na destreza de seus professores e chefes. Às vezes somos muito imaturos para entender certas coisas. Podemos questionar por hábito ou podemos nos calar para ruminarmos melhor as motivações de certos ensinamentos e certas ordens. Hoje em dia, a obediência cega não é valorizada, mas é exigida em certos meios - profissionais, religiosos, esportivos - e pode render bons resultados.

Desobedecer Pai Mei é pedir pra morrer, mané!

Porém, tanta disciplina pode esconder um puxa-saco. Alguém que faz aquele trabalho que fica mais bonito pro chefe, mas não quer nem saber dos bastidores. Ele quer mesmo é aparecer. Não conte com a sua ajuda no trabalho pesado, muitas vezes mais necessário do que o beija-mão cotidiano.

Se aparecer em uma posição negativa da tiragem, pense em alguém que é incapaz de manter a sua palavra, um compromisso qualquer. Ou também num rebelde sem causa, que tem asco a qualquer coisa que evoque ordem.

Concluo com uma citação retirada do Livro dos Símbolos, obrigatório na cabeceira de qualquer um que estude o tarô, o lenormand, as sibilas:

"...mesmo aqueles que nunca foram soldados sonham que são soldados, que necessitam de disciplina militar, coragem e resistência para ultrapassar uma provação ou completar uma tarefa particularmente difícil." (p. 472)

Mentalize o Militare quanto tiver que respirar fundo e enfrentar uma situação difícil. Ele não sabe que a tempestade de areia vai pegá-lo. Mas certamente sairá vivo e fortalecido dela. 



Bibliografia inspiradora:

Martin, Kakhtleen. O LIVRO DOS SÍMBOLOS: Reflexões sobre imagens arquetípicas. Colonia: Editora Taschen, 2012.


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