terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Il Vedovo - 3 de Espadas



O homem tem tanto medo da morte quanto da solidão. O Vedovo fala desses dois medos. A carta, no entanto, não fala em desespero. Temos um arcano para isso. O arcano traz consigo certa inércia, a atmosfera que nos cerca depois que a poeira de uma perda já abaixou. E quem já perdeu um ente querido talvez entenda que esse período - que pode se estender por longos anos - é bem mais doloroso do que o desespero que se segue imediatamente à morte.

O homem leva uma coroa de flores para o túmulo de sua esposa. Não sabemos se ele a enterrou há uma semana, há alguns meses ou há muitos anos. Ele continua homenageando a memória de sua querida companheira, e não demonstra intenção alguma de arrefecer sua saudade.

Dizem que o luto tem cinco fases, e cada uma delas tem uma duração indefinida: a negação (não acreditamos na perda), a raiva (nos revoltamos com a perda), a negociação (geralmente com “Deus”, para que superemos a perda ou para que ela se anule), a depressão (a consciência de que a perda é para sempre) e finalmente a aceitação.

A carta pode significa o luto pela morte literal de alguém. Dependendo da proximidade com a pessoa falecida, a dor não passará. Apenas diminuirá, e nos acostumaremos a ela. 

O viúvo é também uma pessoa que vive sozinha. A carta representa pessoas solitárias por opção ou não. Alguém que não está com ninguém, que vive longe da família ou divorciados. Alerta para a possibilidade do consulente estar isolado demais, evitando que outras pessoas entrem em sua vida ou até mesmo recusando um pouco de luz do mundo. A convivência com outras pessoas nos ensina a ser tolerantes e amáveis, além de proporcionar o aprendizado ao qual nunca chegaríamos sozinhos. 

Porém, a morte não simboliza apenas a morte física: qualquer mudança, fim de relacionamento, rito de passagem implica uma morte e o luto que se segue. Ainda que a mudança seja positiva, levamos algum tempo para nos acostumar à nova realidade. Mas se a mudança não foi desejada, haverá resistência.

Enquanto nos lamentamos pelo passado, transferimos nossa energia para um buraco negro. Depois de um tempo de perda de energia, a depressão é inevitável. E as doenças também. Por isso é preciso prestar atenção quando essa carta sai em uma tiragem: estarei preso a uma situação ou pessoa do passado? Preciso continuar preso? Como isso me afeta?

Obviamente, o corpo de uma pessoa ou animal morto deve ser enterrado, cremado. Se ele ficar exposto e próximo de nós, causará primeiro mal cheiro, depois espalhará doenças. Da mesma forma, se uma situação deve ser encerrada, devemos enterrá-la. Os antigos romanos tinham como um curioso castigo: a necroforia. Um cadáver era atado a um criminoso, e este tinha que carregá-lo enquanto o corpo se decompunha. Em pouco tempo, o condenado morria em consequência das doenças e do horror. Segurar um emprego, um relacionamento, um sentimento que já deu o que tinha que dar pode acabar nos adoecendo de verdade. Muitas doenças sérias, como o câncer, nascem do nosso lamento, do nosso desgosto, de uma coisa ruim que ficamos acalentando.

No entanto, podemos vislumbrar um leve sorriso no rosto do Vedovo, pois – imagino – recorda-se dos bons momentos que viveu com sua amada. Positivamente, a carta aconselha o respeito e o carinho pelas pessoas falecidas e pelo nosso passado. Servem-nos de referência e modelo. Somos hoje o resultado de tudo o que vivemos, e devemos honrar essa experiência. 

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