sábado, 22 de fevereiro de 2014

Prigione - 9 de Espadas

Vemos um homem aprisionado pelos pés num espaço que supomos ser uma cela. Suas roupas são nobres, sugerindo que ele acabou de ser posto ali e que não pertence àquele lugar. Chora desesperado, pois nunca pensou que um dia cairia nessa situação. Além disso, ainda não se acostumou à ideia de ficar preso, não acalmou-se o suficiente para pensar sobre o que aconteceu e como poderá sair dali. Esse desespero o cega e, se não mudar logo o seu estado de espírito, acabará insano. 

Não sabemos se ele é culpado ou não, mas ele se destroi em remorso por ter acabado ali. Para ele, a vida terminou. Não há saída. Nem olha pela janela, não analisa o ambiente. Afoga seu rosto entre as mãos, perdido em seus próprios sentimentos confusos. Não lhe importa se o dia brilha lá fora, se há um jarro de água fresca. O que importa é o seu espírito quebrado, magoado. 

Prigione tem semelhanças com o 5 de Copas de Waite-Smith, tanto na imagem como na sensação de desespero cego, frustração, lamentação. Nem tudo está perdido. O personagem é que está tão mergulhado em sua dor que é incapaz de enxergar a realidade senão de forma distorcida.

É claro que o arcano pode indicar uma prisão de verdade, dependendo da situação do Consulente. Mas a carta destaca a prisão psicológica, os limites que existem somente em nossa cabeça, a falta de esperança e de confiança sem base na realidade, a culpa.

A culpa é como um mecanismo de choque que é ativado em certas circunstâncias pré-estabelecidas por nós, pela nossa educação ou pela nossa sociedade. Esse "choque" nos paralisa e nos impede de seguir em frente. E, se seguirmos em frente, ela causa um pequeno dano que vai se acumular a tantos outros. Ao longo dos anos, estamos petrificados ou corroídos, até mesmo fisicamente. A culpa causa doenças sérias e pode levar à morte. E a culpa está somente em nossa cabeça, como um chip implantado que podemos retirar, mas temos medo de fazê-lo.

A prisão mais poderosa está dentro de nós, e seus dispositivos de segurança, seus muros grossos e seus vigias são sustentados por nós. 

Além disso, esses grilhões podem gerar uma energia estagnante e negativa que impede que qualquer coisa dê certo. Os fracassos aumentam nosso desespero, reforçam os grilhões e nos mantém num círculo vicioso. 

Exercício dos Prisioneiros, de Van Gogh


Quando Prigione aparecer no seu jogo, veja as cartas ao lado para saber a origem das crises do Consulente, suas maiores censuras ou censuradores. Certamente é um ponto do jogo que representa uma ferida aberta e profunda, com a qual é preciso lidar de forma cautelosa. Todos temos feridas, mas quando o arcano se apresenta, é sinal de que está infeccionando outras áreas da vida, e deve ser tratada com urgência. 

"Estar preso a correntes é derrota e punição. O animal acorrentado está em oposição à natureza e instinto." (Martin, Kakhtleen. O LIVRO DOS SÍMBOLOS: Reflexões sobre imagens arquetípicas. Colonia: Editora Taschen, 2012)

O Acusado, de Odilon Redon


A Prisão interior exerce um forte poder coercitivo sobre nós, não somente em relação às nossas grandes feridas. São hábitos enraizados, vícios, visões limitantes. O "mas sempre foi feito assim, por que faríamos diferente?", "todo mundo faz, então você tem que fazer também", "isso é loucura, ninguém nunca pensou assim". É a ignorância agressiva e teimosa que nos coloca numa situação precária e abjeta, e nos tira pouco a pouco a nossa própria humanidade. 

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