quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Viaggio - 3 de Paus

Um cigano pega a estrada, montado num cavalo. Carrega sua bagagem consigo, indício de que a viagem é longa e que passará um bom tempo em seu destino. Talvez nunca mais volte. Ele estará buscando um lugar ou fugindo de outro? Ainda que viaje por escolha, sabemos que ela não foi fácil: o caminho é árido, cheio de cactos. O sol é forte. Deixa o mar azul atrás de si: serão lágrimas de amor ou de sofrimento? 

A Viagem é literal e figurada. Sugere deslocamento longo, mas nem sempre definitivo. Mudança de cidade por imposição do trabalho ou do coração. Tira-nos do conforto cotidiano. Na estrada, estamos vulneráveis, à mercê de salteadores. Corremos o risco de nos perder, pois os caminhos não nos são conhecidos. As cartas ao redor mostrarão se a estrada é segura, se leva a um lugar melhor, se está cheia de inimigos. A estrada é um espaço intermediário: nem lá, nem cá. Por isso ela não tem regras claras, não tem definição, inspira receio. A estrada é perigosa, mas só ela nos leva a algum lugar.

Mostra um período de transição, talvez um pouco confuso. O Consulente deve confiar e enfrentar essa transição. O recuo é fatal. Prender-se a um lugar por medo de mudanças e por amor ao conforto é o mesmo que morrer.

Lembre-se, no entanto, que Viaggio mostra uma mudança essencial - nem sempre desejada - gerenciada pelo próprio consulente. Ele tomou consciência do que deve ser mudado, aceitou seu destino e fez o que foi necessário. Caso insista em permanecer onde está, a mudança pode vir de cima, forçadamente, sem que o consulente possa sequer manejar seu destino. Portanto, se evitar a Viagem, cairá na Disgrazia.

Figurativamente, a viagem é transformação. A passagem de um estado de espírito a outro, a evolução interior, a metamorfose.

A meditação é uma "jornada interior" que pode nos surpreender. Encontramos os cenários e os personagens mais estranhos e reveladores. Nessa estrada podemos encontrar facetas de nós mesmos com outros rostos, que nos darão pistas para que sejam aceitas e integradas. Ao longo da estrada interior, enfrentamos desafios que nos farão cada vez mais fortes e completos. Quem busca a evolução tem que viajar. 

Le Tarot de la Félicité
O Eremita do tarô é um viajante. Ele representa a busca pelo crescimento interior, mas também a prudência e a paciência. Pois nenhuma viagem interior que se preze é rápida: ela dura muitas vidas, leva a caminhos obscuros e enganadores que nos fazem retroceder, nos obriga a parar um pouco para descansar ou para que esperemos a tempestade passar. Ninguém recebe a iluminação em apenas um workshop com um guru indiano, ainda que alguns anúncios de "karma-cola" tentem nos convencer. 

A viagem está presente em várias obras que sugerem uma evolução mística: A Divina Comédia (Dante Alighieri), O Peregrino (John Bunyan) e o próprio Tarô, que para muitos mostra a jornada do Louco pelos arcanos maiores, suas experiências de vida, de morte e do além.








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