sábado, 15 de fevereiro de 2014

Allegria - 9 de Paus

Três pessoas bem vestidas brindam com champanhe. É uma ocasião especial, com convidados escolhidos. O nome da carta, no entanto, engana um pouco. Temos outro arcano chamado Allegrezza al Cuore / Alegria do Coração. Essa sim é a verdadeira alegria. Allegria, como a última carta estudada (Riunione), é um teatro.

Como os Deliranti, essas pessoas já estão um pouco bêbadas. Não podemos dizer, no entanto, que estão todas desarmadas. Algumas sim, mas outras estão bem atentas. Uma festa não serve apenas para que as pessoas se divirtam. Uma festa é um palco de intrigas, de negociações, de segredos e violações. Numa festa podemos encantar, mas também passar vergonha. Fazer coisas das quais nos orgulharemos ou nos arrependeremos depois. 

Ser convidado para uma festa ou jantar pode ser uma armadilha. Como no filme The Last Supper, de 1995: cinco amigos dividem uma casa e decidem matar pessoas que possam ter quaisquer desvios morais. Assim, convidam para jantar aquelas figuras radicais, com ideias pouco ortodoxas. Se elas não apresentarem bons argumentos para suas teses, acabam sendo envenenadas (fonte). 

Na frente de outras pessoas, somos gentis, divertidos, engraçados. Temos um arsenal de comentários, piadinhas, observações sobre a política atual. Tudo, é claro, com certa leveza, para não acirrar os ânimos e colocar os convidados em lados opostos. Numa festa, somos sempre felizes e queremos demonstrar ser melhor do que julgamos que somos. Queremos impressionar.

Apesar de brindarem juntos, não podemos deduzir da imagem que são todos amigos. Vemos um homem e duas mulheres: vai saber se uma não é esposa e a outra, amante? Pois esse é um significado possível pra carta: triângulo amoroso. E bem disfarçado, diga-se de passagem. 

A Allegria alerta para a necessidade de sermos mais sóbrios, de olharmos além das plumas, dos confetes e do champanhe borbulhante. Muitas vezes não enxergamos as pessoas como realmente são, pois elas são tão agradáveis que nos entorpecem. Alerta para a nossa inocência, para as más influências de amigos e amantes. E também nos lembra que há coisas atraentes, mas viciantes: bebidas, drogas. Na carta podemos ver o início do vício, quando todos os amigos ainda estão por perto, tudo é cheiroso e abundante. 

Além disso, há pessoas que não vivem sem estar rodeadas de outras pessoas. Assim como a timidez atrapalha, a extroversão pode deixar alguém em maus lençóis. A necessidade de companhia a qualquer custo nos impede de escolher bons amigos ou de diferenciá-los na turba que sempre procuramos. Algumas das pessoas das quais gostamos tanto estarão por perto apenas enquanto durar a diversão, enquanto a música estiver tocando, enquanto houver champanhe. São "amigos" interesseiros, que podem te tirar dinheiro sem dó. 

Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! (Lucas 15:11-17)

Por outro lado, Allegria aconselha a diversão, caso estejamos pesados e negativos. As comemorações marcam a nossa vida como rituais. São importantes depois de alcançarmos objetivos importantes, do nascimento de crianças, do fim de um curso de graduação etc. Sob esse aspecto, a carta mostra a alegria da vitória.


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