domingo, 1 de março de 2015

Domestico - 11 de Paus



Um homem abre a porta de uma carruagem e inclina-se para dar passagem ao seu patrão. Ele olha para o chão, submisso. Seu chapéu está em suas mãos em sinal de respeito. Provavelmente não fala muito além de "sim, senhor" e nunca demonstrou qualquer deslealdade aparente. Tampouco lealdade. Ele não é um indivíduo, mas uma sombra cumpridora do seu dever.

Na época em que a Sibilla Italiana surgiu, na segunda metade do século XIX, as relações entre patrões e empregados era bem diferente do que é hoje, especialmente na Europa. "Empregados" e "patrões" sabiam muito bem a que mundos pertenciam. E esses mundos raramente se comunicavam. Além disso, certos valores e comportamentos eram atribuídos a uma classe social ou outra. Depois da Revolução Francesa e das ondas de revoltas que tomaram conta da Europa no século XIX, as classes sociais mais baixas passaram a ser vistas com certa desconfiança, como pessoas necessárias ao funcionamento do cotidiano, mas não mais os "bons  e fiéis criados de antigamente". Vemos, no Sibilla, que há pessoas de classes sociais diversas para representar situações, sentimentos e comportamentos específicos. Mas uma análise mais detalhada fica para um próximo post. Por enquanto, um gostinho para começarmos a perceber essas nuanças:

Os Super-Pobrinhos
A cara da riqueza


Como o Domestico não faz parte da família, apesar de viver atrás das portas e ter acesso a cada gaveta de armário da casa, ele pode ser visto como uma pessoa muito perigosa. Sabe demais, mas é apenas um empregado. Será que a lealdade se mantém apenas enquanto recebe seu salário? 

Ele é o "mordomo assassino", uma pessoa que não merece nossa confiança, ainda que pareça servil e discreto. Na vida real (das pessoas que não têm mordomos em casa), é aquela pessoa que se aproxima com uma gentileza exagerada, quase encolhendo a cabeça quando fala conosco, mostrando-se sempre solícita. É o puxa-saco do chefe que visa atingir seu fim usando pessoas poderosas. É o amigo interesseiro que está sempre presente (ou melhor, grudado). Pessoas falsas, mas cuja falsidade inclui uma série de agrados, gentilezas. Pode ser bom ter essa pessoa realizando seus desejos, mas não se engane: quando você não servir mais para os objetivos dela, será descartado. Na pior das hipóteses, com uma faca cravada nas costas (caso seja seguida pelos Inimigos).

Nemica, Nemico e Domestico são pessoas que é melhor nunca ter por perto. Não tente usá-las a seu favor, a não ser que seja tão ou mais habilidoso do que eles. 

Um personagem me lembra muito o Domestico: Eve Harrington, do filme A Malvada (All About Eve, 1950). Ela é uma grande fã da atriz Margo Chaning (Bette Davis) e torna-se sua assistente. Eve, a princípio, é um anjo na vida de Margo. Tão boa que não parece ser de verdade. No entanto, aos poucos começa a interferir na vida da atriz de tal forma que transforma suas relações pessoais e sua carreira. O filme vale a pena, tanto pela maravilhosa Bette Davis quanto pela pequena aparição da atriz Marilyn Monroe, ainda pouco conhecida.


O filme inspirou a novela global Celebridade, de 2003. "Eve" é Laura Prudente da Costa (Claudia Abreu), que inferniza a vida da empresária Maria Clara Diniz (Malu Mader).

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